SISTEMA OPERACIONAL INTEGRADO DA POLÍCIA MILITAR
NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS A SEGURANÇA PÚBLICA
PAULO AUGUSTO SOUZA TEIXEIRA
Capitão da Polícia Militar e Gerente de Informática do SOIPM
Quartel General da PMERJ - Centro de Processamento de Dados
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Resumo: O presente texto aborda o uso de novas tecnologias aplicadas à Segurança Pública, visando a melhoria das condições de vida dos cidadãos do Rio de Janeiro e das condições de trabalho da Polícia Militar/RJ.
Abstract: This text concerns to the use of new technologies applied to public security, looking for a better way of life for the Rio de Janeiro's people and better work conditions for the Military Police.
SITUAÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - 1995
Foram detectados vários óbices para o pleno funcionamento da Polícia Militar do Estado, com a missão Constitucional de realizar o policiamento ostensivo e de preservar a ordem pública (CF Art. 144, §5º):
1. A comunicação com as viaturas caracterizava-se pelo congestionamento de mensagens via rádio e pela falta de sigilo destas (possibilidade de interceptação). Parte da área da capital utilizava UHF, enquanto que outra parte, juntamente com a Baixada Fluminense e interior do Estado, utilizavam-se de rádios VHF;
2. O tempo entre a solicitação do público e a chegada da viatura ao local era grande;
3. A informação da posição da viatura era fornecida pela guarnição, sendo registrada manualmente no Centro de Operações (COPOM);
4. Imprecisão nas informações advinda de estatística feita manualmente.
SITUAÇÃO DESEJADA
Baseado nos ítens acima, visualizou-se uma situação a ser alcançada composta de:
1. Uso de um meio de comunicações mais seguro;
2. Menor tempo para atender a uma solicitação (despacho informatizado);
3. Automatizar a informação de posicionamento, visando identificar a viatura mais próxima de um local de ocorrência;
4. Informações mais precisas e em tempo oportuno.
SOLUÇÃO ADOTADA
Elaborou-se um projeto para atingir a situação desejada denominado SOIPM (Sistema Operacional Integrado da Polícia Militar). Tal projeto, para atingir um nível de excelência em atendimento ao público, buscou uma solução completa e inovadora em nível nacional contemplando as seguintes tecnologias:
1. Posicionamento de viaturas e transmissão de dados via satélite;
2. Despacho de viaturas assistido por computador;
3. Sistema de informações geográficas.
POSICIONAMENTO DE VIATURAS E TRANSMISSÃO DE DADOS VIA SATÉLITE
Visando aumentar a confiabilidade das comunicações, bem como permitir a localização exata de uma viatura no território estadual foi adotado o sistema OmniSAT, da empresa Autotrac que representa a Qualcomm Inc.
Componentes do Sistema OmniSAT
Os principais componentes do sistema são:
1. Terminal de Comunicações Móvel (MCT), composto de duas antenas (uma para posicionamento - GPS - e outra para comunicações - Banda C), hardware e software para processamento de mensagens e posições (módulo de comunicação "caixa preta") e Terminal (módulo tela/teclado);
2. Constelação de Satélites de Posicionamento;
3. Satélite de Comunicação BrasilSat II;
4. Central de Gerenciamento, situada em Brasília;
5. Central de Operações. No caso da PM é o COPOM.
Características do GPS da QualComm:
1. Acurácia de cerca de 100m;
2. Utiliza uma constelação de 21 satélites orbitais;
3. Possibilita posicionamento em "real-time";
6. Características do Satélite BrasilSat II:
1. Padrão HUGHES: HS376W;
2. Na BandaC possui: 1 transponder de 33 Mhz e 27 transponder de 36 Mhz.
A Secretaria de Estado de Segurança Pública (SESP/RJ) determinou a instalação em veículos da Polícia Militar (503), Corpo de Bombeiros (47 sendo em ambulâncias e em veículos de remoção de cadáveres) e Polícia Civil (3 Perícia Criminal). Cada organização possui o controle de seus veículos. Havendo necessidade, a coordenação das ações passa para o COSI (Centro de Operações de Segurança Integrada). As viaturas da PMERJ serão controladas através do COPOM (Centro de Operações da Polícia Militar).
1. As posições são coletadas de 1 em 1 minuto e a cada conexão Rio-Brasília os equipamentos do COPOM são atualizados. As conexões ocorrem a cada 03 (três) minutos. Essas informações possibilitam saber qual a viatura mais próxima de um local de ocorrência, bem como orientam o despachador no momento de coordenadar um cerco em casos como roubos a estabelecimentos de crédito, roubos a residência com reféns, perseguições e outros.
A troca de mensagens diminui o uso da rede rádio para mensagens rotineiras (início de serviço, refeição,...) permitindo o envio e recebimento de mensagens pré-formatadas ("macros"). Atualmente o Policial na rua tem recebido com maior velocidade dados relativos a veículos suspeitos. A evolução do Sistema visa ampliar para dados de pessoas, principalmente apenados.
Atualmente as viaturas que atuam no Centro, Zona Sul e parte das Zona Norte e Oeste estão usando rotineiramente o sistema. Algumas viaturas das unidades da PM situadas nas divisas com os demais estados do Sudeste: Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo, estão dotadas de tais equipamentos, possibilitando um acompanhamento mais efetivo em operações de cerco.
Podemos apontar como pontos fortes do sistema: Área de Cobertura (América do Sul) e possibilidade de aumentar o número de viaturas monitoradas sem degradação do sistema. Mas existem pontos a serem melhorados, como: Implementação de DGPS (GPS Diferencial) que permite uma margem de erro de 2m a 5m, contrapondo-se aos 100m atuais e custo das comunicações Rio-Brasília para mensagens e posições (hoje utilizamos 06 linhas RENPAC para tal fim).
A troca de mensagens auxilia o Policial na rua, principalmente quanto a dados de veículos suspeitos. Deseja-se ampliar para dados de pessoas, principalmente apenados.
Algumas ocorrências policiais foram resolvidas graças ao equipamento apoiando o efetivo nas ruas.
DESPACHO DE VIATURAS ASSISTIDO POR COMPUTADOR
Objetiva diminuir o tempo entre a chamada (ligação para o telefone 190) e o despacho da viatura, com o conseqüente atendimento da ocorrência.
Por ocorrência policial entende-se: todo o fato que implique em ação de preservação da ordem pública pela Polícia Militar
As ações de Polícia Ostensiva não se restringem a coibir crimes e/ou contravenções, mas em sentido amplo, atuar para manter um estado de bem-estar social.
Para atender a população do Estado do Rio de Janeiro há um telefone de emergência (190) que está direcionado para o Centro de Operações mais próximo. Contudo, este atendimento tem sido lento e de baixa qualidade.
Abaixo descreveremos o funcionamento do novo sistema:
1. O solicitante faz ligação para 190;
2. Atendimento pelo telefonista: Este faz uma triagem inicial. O telefone do assinante, bem como seu nome e endereço são exibidos na tela, permitindo uma seleção entre chamadas reais e trotes.
Neste momento é verificado se já existe viatura para atender, evitando assim duplicidade de atendimento.
Caso a chamada configure uma ocorrência essa é repassada aos despachadores para o envio de uma viatura e acompanhamento da ocorrência. Caso seja apenas uma orientação ao público ou o fornecimento de informes (dados a serem confirmados sobre locais, pessoas, veículos, etc) a chamada é repassada a um atendente;
3. Despacho de viaturas: Consiste no envio da viatura e o acompanhamento da ocorrência até o seu encerramento.
O envio da viatura deve obedecer a critérios como: proximidade do local da ocorrência, setor de patrulhamento (área de atuação da patrulha), situação no momento da ocorrência (empenhada ou disponível).
O acompanhamento compreende todas as ações realizadas por Policiais Militares e seus resultados. Armas, veículos e materiais apreendidos são dados relevantes, para o planejamento de de outras formas de policiamento.
Cabe esclarecer que a identificação do assinante é realizado no momento da ligação por um equipamento denominado SIDAC (Sistema Identificador de Assinante Chamador). Através de software o número do aparelho é requisitado em uma base de dados fornecida pela concessionária de telefonia local (TELERJ). Todas as comunicações via rádio ou telefone do COPOM são gravadas.
Um detalhe merece ser destacado que é a terceirização do atendimento telefônico de emergência, experiência pioneira em organizações Policiais Militares.
SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS
Inicialmente vinculado ao despacho de viaturas para cálculo de rotas, a importância das informações geográficas vem crescendo a cada dia dentro do projeto, sendo merecedora de atenção especial.
Os SIG possuem a capacidade de associar dados espaciais (por exemplo logradouros) a não espaciais (por exemplo ocorrências) estabelecendo correlações para futuras análises. Vemos na possibilidade de análise de dados relevantes a maior ferramenta para um combate à criminalidade baseado em inteligência e não em empirismo.
O maior problema encontrado tem sido a obtenção de bases georeferenciadas para o projeto. No Brasil as informações geográficas ainda são pouco difundidas e de difícil produção. No caso específico do Rio de Janeiro temos várias fontes com bases em diversos formatos, escalas e datas de atualização. Buscou-se a realização de convênios e termos de compromisso com várias entidades e até a aquisição em empresas privadas. Foi conseguido um acordo com a Light, tendo esta cedido sua base digitalizada do Centro, Zona Sul e parte da Zona Norte. Foram feitas reuniões com o CIDE que se prontificou a ceder a base digital dos municípios que circundam a Baía de Guanabara, exceto Rio de Janeiro e parte de Niterói (Praias Oceânicas).
Outra questão relevante é o cadastro de logradouros que precisa de dados como: tipo de cobertura, mão de direção, tipo de numeração, etc. Cada unidade da PM realizou levantamento em sua área. Estimamos a conclusão destes levantamentos em cerca de 90 (noventa) dias. Os dados já coletados (Centro e parte das zonas Norte e Sul) estão sendo conferidos.
A manutenção do cadastro de logradouros é fundamental para o perfeito funcionamento do Sistema. Está sendo avaliada a melhor metodologia, para tal fim, como o uso de viaturas com GPS.
Com efetivo funcionamento do sistema serão armazenados dados relevantes. As estatísticas geradas serão mais ricas pelo relacionamento de atributos espaciais a não-espaciais, possibilitando uma real análise da criminalidade na sua área de atuação. As análises possibilitarão um melhor emprego dos recursos materiais e do elemento humano, aumentando a qualidade do serviço prestado pela Corporação.
UMA BREVE VISÃO DOS RECURSOS EMPREGADOS:
Por se tratar de um projeto inovador e extremamente complexo, existem vários recursos envolvidos que tiveram que ser compatibilizados:
1. Infra-Estrutura - Alta disponibilidade de alimentação elétrica, estando incluídos No-Break e Sistema Gerador. O Sistema de Refrigeração Central também possui equipamentos alternativos.
2. Despacho de Viaturas:
a. Hardware - baseado em dois RISC/6000 servidores, Duais e configurados como de alta disponibilidade. Possuem 04 (quatro) unidades de discos externos com gravação redundante.
As estações são equipamentos Pentium 75mhz. Para a interconexão em rede existem 02 (dois) switches - Hub, O1 (um) - servidor de terminais (para duas X-Stations) e um roteador que possibilitará a conexão aos sistemas da TELERJ e PRODERJ.
Existem ainda um SIDAC, para a identificação do telefone do solicitante e um sistema de gravação Dictaphone com 128 canais para os telefones 190 e os rádios dos despachadores.
Baseado em uma filosofia de alta disponibilidade, o sistema é baseado no S.O. UNIX (AIX) com Banco de Dados Relacional (Informix), Sistema de Informações Geográficas (Arc/Info e seus subssistemas como Arc/Storm, NetWork, ...) e o aplicativo de Despacho de Viaturas (COPOM). As estações utilizam interface gráfica (Windows) e conectam-se a rede através do protocolo TCP/IP.
Sistema de Posicionamento e Transmissão de Dados via Satélite consiste nos componentes já citados. Atualmente utiliza o software QTRACS (DOS) da QualComm. Será instalado um software multiusuário.