UTILIZAÇÃO DE UM SIG PARA ESTUDO DA ALTERAÇÃO DOS LIMITES POLÍTICO-ADMINISTRATIVOS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO,

AO LONGO DA DÉCADA DE 80

 

Alberto L. Najar

Mônica de Avelar F. M. Magalhães

Maria de Fátima R. P. de Pina

Júlio Cesar Mello de Paola

 

Pesquisador Associado do Dept. de Ciências Sociais, Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ, Mestre em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ) e doutorando em Ciência Política IUPERJ.

Bolsista de Iniciação Científica Centro Informação Científica e Tecnológica, Dept. de Informações para a Saúde/FIOCRUZ.

Pesquisadora-Visitante do Centro de Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ, Mestre em Engenharia de Sistemas (IME) e doutoranda em Engenharia Biomédica na Coppe/UFRJ.

Bolsista de Iniciação Científica Centro Informação Científica e Tecnológica, Dept. de Informações para a Saúde/FIOCRUZ.

 

 

RESUMO

 

 

A finalidade deste trabalho é apresentar a metodologia desenvolvida para tornar comparável, ao longo da década de 80, as áreas, do município do Rio de Janeiro, que tiveram seus limites alterados. Utilizou-se o software ARC/INFO como ambiente de desenvolvimento e, como base, a malha de setores censitários de 1991, desenvolvida no âmbito do SIG/FIOCRUZ.

 

 

 

 

ABSTRACT

 

The main objective of this paper is to introduce a methodology that allows comparisons, during the 80's, between administrative divisions in Rio de Janeiro. We had use the ARC/INFO software and the 1991 census tracts, developed in the FIOCRUZ/GIS.

UTILIZAÇÃO DE UM SIG PARA ESTUDO DA ALTERAÇÃO DOS LIMITES POLÍTICO-ADMINISTRATIVOS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO,

AO LONGO DA DÉCADA DE 80

 

 

O problema da homogeneidade das unidades espaciais de agregação / apresentação de dados, conforme é fartamente sabido, tem papel fundamental para uma aproximação analítica bem feita, tanto quando estamos interessados na distribuição espacial "apenas" para visualização, como no estudo de padrões de dispersão de determinadas variáveis.

 

O Município do Rio de Janeiro teve os limites de sua divisão administrativa - bairros e regiões administrativas - modificados em graus diferenciados ao longo da década de 80, por diversos Decretos e Leis. A conseqüência mais imediata e visível deste rearranjo é a mudança do desenho interno da cidade. Ocorre que estas alterações foram feitas ao longo de toda uma década, abrangendo um período inter-censitário, mudando, dependendo da unidade de agregação espacial com a qual se esteja trabalhando, os denominadores para o cálculo de taxas, índices etc.

 

Destaque-se que a comparação 80 / 91 fica imediatamente sob suspeita, para algumas regiões da cidade, se não forem consideradas estas alterações, visto que, conforme será apresentado, limites de áreas muito adensadas foram alterados. Ou seja modificaram-se tanto os limites das Regiões Administrativas como dos bairros. A primeira conclusão, um tanto óbvia, é que as comparações supõem áreas geográficas iguais, procurando observar a modificação ao longo do tempo de determinadas variáveis. Ocorre que neste caso, e para algumas áreas importantes, o espaço também mudou de escala. Como é virtualmente impossível inferir qualquer coisa nestas condições onde espaço e tempo variam conjuntamente, ou se controlam estas alterações ou nada se pode afirmar, do ponto de vista da análise temporal, inter-censitária, sobre determinadas áreas importantes no Município do Rio de Janeiro.

 

Como se não bastassem os argumentos de natureza puramente metodológicos, há ainda o seguinte: todos sabem que existe um debate, ainda em curso, sobre a década de 80. Como teriam se comportado os indicadores? A vida dos cidadãos teria melhorado? A década foi perdida, do ponto de vista do desenvolvimento social, da diminuição das desigualdades? É evidente que para se debater sobre estas questões é preciso comparar os anos censitários de 80 e 91, e mais uma vez há que se ter cuidado nas afirmações sobre o Rio de Janeiro. Se a análise dos dados sócio-econômicos ao longo da década de 80 requer leitura atenta para todo o país, face à complexificação e sofisticação do nosso padrão de desenvolvimento, a análise para o Município do Rio torna-se ainda mais complexa.

 

Todos os que tiveram oportunidade / necessidade de comparar os dados referentes ao Município do Rio de Janeiro entre 80 e 91, notaram o seguinte: além da criação de algumas Regiões Administrativas (RA's), a XII RA em 1980 (Meier), passou a ser a XIII RA em 91. Ou seja, aparentemente uma mudança apenas ordinal. A XIII RA em 1980 chamava-se Engenho Novo. Em 1991 não encontramos nenhuma RA com esta designação. Mas, conforme já notamos, a numeração manteve-se, mudando apenas a ordem e o nome. Notou-se também que em 1991 a XII RA chamava-se Inhaúma: nome novo para uma velha área? Não, conforme ficará claro ao longo deste trabalho.

 

Apenas as questões de denominação e enumeração que acabamos de apresentar, geram problemas na apresentação dos dados, pois corre-se o risco de, ao citarmos a XII RA em 1991, o leitor pensar, equivocadamente, que trata-se da RA do Meier, quando referimo-nos, em verdade, a RA de Inhaúma. Supondo-se que todas estas modificações tenham sido apenas de nomes e números, os problemas ficariam resolvidos com, de um lado uma nota esclarecedora na tabela, por outro com uma leitura atenta. Ocorre que quem teve curiosidade de verificar as modificações, deparou-se com grandes surpresas.

 

A finalidade deste trabalho é apresentar uma metodologia que possa tornar comparável, ao longo da década de 80, as áreas, no interior do Município do Rio de Janeiro, que tiveram seus limites alterados. Neste sentido apresentamos o conjunto de Leis e Decretos de criação / alteração de limites, em seguida são feitas algumas ponderações de restrições e opções metodológicas no que se refere ao uso das RA's como unidades espaciais de agregação, destacando a opção que escolhemos. Passamos então a detalhar nossa metodologia com a apresentação de seus resultados através de tabelas e mapas.

 

 

 

 

DECRETOS E LEIS

 

São os seguintes os Decretos e Leis que alteraram os limites e distribuição dos bairros e RA's:

 

 

Numa primeira avaliação destes Decretos e Leis pode-se observar de imediato que:

 

O problema na primeira opção - mudança da unidade de agregação - é que, dependendo do que estejamos pesquisando e de qual banco de dados utilizemos, as informações não serão passíveis de serem recuperadas. É o caso, por exemplo, do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde: como é sabido, não só, mas também para a cidade do Rio de Janeiro, as informações podem ser recuperadas rapidamente pelas RA's de ocorrência ou residência do óbito. Da mesma forma toda informação disponibilizada para o Município, pela Empresa Municipal de Planejamento (IplanRio), através do Anuário o é tendo como menor unidade de agregação as RA's. Isto impossibilita a utilização através do setor censitário, a menos que seja feito amplo trabalho de digitação de dados tornado-os acessíveis nesta escala. Deve-se lembrar que tratam-se aqui de possibilidades de agregação dos dados, e não unidades de análise dos dados, uma vez que são sabidas as instabilidades geradas por agregações espaciais muito pequenas. A utilização de bairros, apesar de interessantíssima pois sofreram poucas alterações, muitas vezes torna-se inviável pelas mesmas razões expostas anteriormente, ou seja não ser uma unidade que possibilite a recuperação da informação em ampla escala.

 

Quanto à utilização das Áreas de Planejamento (AP's), o problema básico é a perda de informação pois são áreas muito extensas que abrigam grandes diferenciações, no entanto seu emprego permite comparações ao longo do tempo, por serem estas constituídas por RA's. Neste caso a atenção deve estar voltada para o fato de que as AP's eram seis em 1981, passando a cinco em 1985. Em 1981 a Área de Planejamento 6 (AP6) era formada pelas seguintes RA's: XX (Ilha do Governador), XXI (Paquetá) e XXIII (Santa Teresa). A XX RA foi incorporada na AP3, a XXI e a XXIII RA's na AP1.

 

A segunda alternativa tem sido a mais utilizada, já que, apesar de também implicar em perda de informação, viabiliza a comparação inter-censitária. Para tal deve-se considerar as áreas que tiveram maiores transformações em magnitude, equivalentes às atuais:

 

 

Neste caso o problema deve ser tratado agregando as áreas contíguas, ou re-incorporando as RA's novas, nas RA's originais. Sugerimos a seguinte agregação: XII RA (Inhaúma) + XIII RA (Méier); XXII RA (Anchieta) + XXV RA (Pavuna) e XVIII RA (Campo Grande) + XXVI RA (Guaratiba).

 

METODOLOGIA

Tendo em vista as inconsistências destacadas anteriormente, nossa opção foi criar uma nova metodologia para comparar a estrutura de 1991 com a de 1980. Basicamente, a estrutura político-administrativa de 1991 foi "levada" para 1980. Descrevemos em seguida, de forma mais sistemática, as etapas de trabalho realizadas: utilizando um jogo de plantas do município na escala 1:10000, fornecido pela IplanRio, já com a marcação dos limites de RA's e bairros de 1991, foram plotados os limites de RA's e bairros de 1980. Em seguida estes limites foram digitalizados e tratados no ArcInfo. De forma mais sistemática, foram realizadas as seguintes etapas de trabalho:

 

Pode-se ter uma idéia da magnitude de variação das áreas através dos mapas apresentados. Na figura 1 representadas com os mesmos padrões as RA's 1980 e 1991 com o propósito de destacar a variação de área ao longo da década. Na figura 2 apresentamos todas as áreas que sofreram alterações no período inter-censitário.

 

Figura 1: Comparação entre RA's para os anos 1980 e 1991

 

 

 

 

Figura 2:Áreas que mudaram de RA ao longo da década de 80

 

O resultado deste trabalho é apresentado na tabela 1, que orienta os remanejamentos de setores censitários que devem ser feitos no sentido de se comparar as RA's de 1980 e 1991.

Tabela (1) de Remanejamento de Setores & População

Setores Censitários 1991:

da RA 1991:

para a RA 1980:

população

475,477-478,624

RA Bangu

RA Campo Grande

4.033

172-184

RA Bangu

RA Anchieta

9.453

7,237

RA Campo Grande

RA Bangu

366

388-397,438

RA Jacarepaguá

RA Barra

4.641

198-219,223,233-257,260-272,

275-282

287,437-438,441,445-446,448

RA Madureira

RA Irajá

69.410

273-274,283-285,385,409-410

419-427,444

RA Madureira

RA Anchieta

14.929

1-12

RA Madureira

RA Jacarepaguá

9.393

21-35,200-202

RA Pavuna

RA Irajá

6.763

1-20,36-199,203

RA Pavuna

RA Anchieta

171.439

108-122,135-150,155,227

RA Irajá

RA Anchieta

25.342

114-117,125,128-129,184-194,361

RA Penha

RA Irajá

18.789

244,258-260,274-275,291-293

RA Ramos

RA Penha

6.797

5,14-16,48

RA Ramos

RA São Cristóvão

9.072

395-410,415,418-444

496-497,501,504-505

RA Méier

RA Madureira

40.087

1,6-12,20-34,45-49,59-73,

88-163,186-225,242-251,306-329,

347-382,390-394,499-500,

502-503,506-508

RA Méier

RA Engenho Novo

200.406

64-73

RA Tijuca

RA Vila Isabel

7.448

213-218,223-224

RA Tijuca

RA Rio Comprido

6.858

5-7,16-25

RA Vila Isabel

RA Tijuca

12.199

9-15

RA Portuária

RA São Cristóvão

11.166

1-14

RA Botafogo

RA Copacabana

11.371

198-203

RA Botafogo

RA Santa Teresa

5.790

8-9,39,77,83,103,107,121

RA Lagoa

RA Copacabana

6.063

145,154,161,169-170,

181,198-199,236-237,258

RA Lagoa

RA Barra da Tijuca

9.655

1-22,229.

RA Inhaúma

RA Ramos

842

23-228,230-238.

RA Inhaúma

RA Méier

190.274

1-56

RA Guaratiba

RA Campo Grande

60.774

   

TOTAL

913.360

 

 

 

CONCLUSÕES

As conclusões são imediatas. Com modificações desta ordem, em áreas de densidade demográfica média de 127,24 hab./km2, pode-se pensar em rever as comparações no tempo que envolveram estas áreas, ou pelo menos, com a metodologia que desenvolvemos, pode-se estimar o erro que cometemos. Remanejar 913.360 habitantes, significa 16,7% da população total do Município do Rio de Janeiro. Se levamos em consideração estudos estratégicos, que envolvem, por exemplo, planejamento e gestão do território, hierarquização da rede de serviços de saúde, dimensionamento de serviços diversos prestados à população etc. tem-se uma pequena idéia o que significa comparar essas áreas sem as ressalvas devidas às modificações que acabamos de demonstrar.