RELACIONAMENTO ENTRE O TERRACEAMENTO
SEDIMENTAR E FISIOGRAFIA CARACTERÍSTICA DE MANGUEZAIS NA REGIÃO DO RECÔNCAVO DA BAÍA DE GUANABARA, UTILIZANDO TÉCNICAS DE SENSORIAMENTO REMOTO E SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS.
CLÁUDIO HENRIQUE REIS1
JUÉRCIO TAVARES DE MATTOS2
IVAN DE OLIVEIRA PIRES3
1
Mestrando - INPERua Viena, 162 - CEP 21215-350
Rio de Jeneiro - RJ
Tel/Fax : (021) 620-5039
2
Professor adjunto - UNESPAv. Ariberto Pereira Cunha, 333 CEP 12500-000
Guaratinguetá - SP
Tel (012) 525-28000 r.188
3
Professor adjunto UFFCampus da praia Vermelha s/n CEP 24000-000
Tel/Fax : (021) 620-5039
Niterói - RJ
Resumo. Baseada na tecnologia de sensoriamento remoto e em sistema de informações geográficas, a presente pesquisa visa, criar bases temáticas que permitam a identificação dos terraços sedimentares e sua relação com a cobertura vegetal, através do processamento digital, interpretação visual e interpoladores matemáticos.
Abstract. This work aims to design thematic cartographic basis which will allow the identification of sedimentary terraces and their relationships with the vegetation cover by use of remote sensig and geographic information systems techniques.
The region under observation encompasses the mangroves forest of eastern border of Guanabara bay
Preliminary results are presented in this work.
INTRODUÇÃO
O manguezal é um ecossistema de transição entre os ambientes aquáticos e terrestre, típico de planícies costeiras tropicais, ocupando normalmente áreas no interior de baías e estuários. Esta localização, contudo, tem sido uma das preferidas pelo homem para viver. A ocupação desordenada do entorno dos manguezais vem acarretando modificações no funcionamento desses ecossistemas estuarinos, devido principalmente ao processo de substituição da cobertura vegetal costeira, promovida por ações antrópicas de diversas origens e escala.
O último trecho representativo de manguezais da orla oriental da Baía de Guanabara, conhecida também como "Recôncavo da Baía de Guanabara", vem sofrendo a décadas desmatamento constante, apresentando condições bastante críticas quanto ao seu equilíbrio ecológico e geomorfológico. Embora significativamente reduzida a faixa de manguezais remanescentes, atualmente restrita a Área de Proteção Ambiental Guapimirim, ainda desempenha importante papel para a qualidade de água e vida da baía. Seu estado ambiental atual, contudo, requer sérios cuidados para que esse desempenho possa ser preservado.
O presente trabalho tem a finalidade de demonstrar a importância da visão geomorfológica no estudo da dinâmica dos manguezais situados na orla oriental da Baía de Guanabara, atualmente restritos à Área de Proteção Ambiental Guapimirim (APA - Guapimirim).
LOCALIZAÇÃO DA ÁREA
A área de interesse deste trabalho corresponde a Área de Proteção Ambiental Guapimirim, compreendendo a faixa litorânea dos municípios de São Gonçalo, Itaboraí, Guapimirim e Magé, localizados na orla oriental da Baía de Guanabara. A região está situada entre os paralelos 22º38¢ a 22º48¢ sul e os meridianos de 42º 58¢ a 43º 05¢ a oeste de Greenwich (figura 1).
Fig.1: localização da área
MATERIAIS
A tabela 1 discrimina o material utilizado na execução desse trabalho.
1 - IMAGEM |
ESCALA |
SENSOR |
BANDAS |
PASSAGEM |
||||
Transparecia |
1:1.000.000 |
TM |
3, 4 e 5 |
27/06/94 |
||||
Papel |
1:100.000 |
TM |
3 e 5 |
27/06/94 |
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Digital |
|
TM |
3, 4, e5 |
27/06/94 |
||||
2 - MATERIAL CARTOGRÁFICO |
FOLHA |
EXECUTOR |
ESCALA |
DATA |
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|
R. Metropolitana |
FUNDREM. |
1:10.000 |
1977 |
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|
Itaboraí |
IBGE |
1:50.000 |
1979 |
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|
Petrópolis |
IBGE |
1:50.000 |
1979 |
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|
B. Guanabara |
DSG |
1:50.000 |
1987 |
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Maricá |
DSG |
1:50.000 |
1970 |
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3 - Sistema de Tratamento de Imagens (SITIM-INPE) |
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4 - Sistema de Informações Geográfica (SGI-INPE) |
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5 - Mesa digitalizadora |
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6 - Procon |
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7 - Ploter |
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Tabela 1 - Relação dos Materiais
1.imagens orbitais
A passagem de 27 de junho de 1994 coincide com a fase de estiagem na região, melhor época para mapear os manguezais. Os diferentes produtos, serão utilizados para:
METODOLOGIA
1.confecção de mapa hipsométrico
O mapa hipsométrico é a representação altimétrica do relevo de uma região no mapa, pelo uso de cores convencionais. Os dados topográficos serão extraídos das cartas topográficas 1:10.000.
A função do SGI que é utilizada para a manipulação deste tipo de dados é conhecida por Modelo Numérico de Terreno (MNT). Os interpoladores matemáticos existentes nesta função tem a finalidade de representar computacionalmente a topografia de uma determinada região.
2.interpretação visual de imagens
Esta fase consiste em utilizar esta técnica para definir a cobertura vegetal, a partir da imagem em transparência.
A escolha da técnica de análise visual, utilizando o equipamento PROCOM nesta fase do trabalho, é decorrente da facilidade de observar toda a região de estudo, no mesmo plano, podendo ser ampliada sem que haja a perda do conjunto.
3.classificação da cobertura vegetal utilizando o algoritmo máxima verosimilhança (maxer)
O processo de classificação aqui utilizado para caracterizar a cobertura vegetal do maguezal é o proposto por Pires (1992). Este processo foi apoiado em fotografias aéreas, trabalhos de campo, imagens TM-LANDSAT bandas 3, 4, razão 4/3, e em classificação digital, como pode ser visto na tabela 2.
NÍVEL I |
NÍVEL II |
NÍVEL III |
MANGUE |
1.1 - Preservado |
1.1.I - Seções as margens da baía e rios principais. Domínio das três espécie sem zonação, ocorrendo também bosques isolados de Avicênia, dossel irregular. |
|
1.2 - Regenerado |
1.2.I Domínio das três espécies. Alta densidade, dossel mais ou menos regular, pouco solo exposto. |
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1.3 - em regeneração |
1.3.I - Seções aleatórias, predomínio de uma ou outra espécie, densidade muito alta, dossel regular. |
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1.4. - Alterado |
1.4.I - Seções do manguezal ocupadas pôr invasoras: H. pernabucensis, A. aureum e gramíneas substrato alterado, solo exposto evidente. |
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1.4.II - Seções de mangue ocupadas por gramíneas, somente alcançadas por grandes marés. |
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1.4.III - Seções de mangue desmatado, água e solo exposto evidente |
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1.5 - Solo exposto |
1.5.I - Seções sem vestígios de cobertura vegetal . Correspondem aos Apicuns e áreas recentemente desmatadas. |
Tabela 2 - Sistema de Classificação
O nível I do sistema corresponde ao ecossistema manguezal, o nível II procura classificar o manguezal segundo a maior ou menor densidade da vegetação, ou caracterizá-lo quanto ao grau do seu estado de preservação, a terminologia empregada neste nível: preservado/alterado tem a finalidade de diagnosticar um quadro evidente de ação antrópica mais ou menos irreversível. O nível III procura caracterizar mais detalhadamente cada uma das classes através da identificação das comunidades vegetais quando possível.
4.trabalho de campo
O trabalho de campo terá a finalidade de avaliar o estado da cobertura e a características física do sedimento (textura, estrutura e cor) e correlacioná-los com os resultados obtidos na classificação digital
5.cruzamento dos dados
A primeira etapa consiste em comparar e analisar os dados obtidos a partir dos interpoladores matemáticos utilizados no SGI e saber qual deles representa melhor a topografia da região. Em seguida, os resultados obtidos nesta fase serão cruzados com os dados referente a interpretação visual e analisados.
A segunda etapa visa o cruzamento e analise dos dados obtidos na interpretação visual e classificação digital.
RESULTADOS PRELIMINARES
Os primeiros resultados obtidos neste trabalho correspondem ao mapa hipsométrico, mapa de interpretação visual e o de cobertura vegetal, os quais podem ser vistos nas figuras 2 , 3 e 4 e o cruzamento na tabela 3.
CLASSIFICAÇÃO |
INTERPRETAÇÃO VISUAL |
HIPSOMETRIA |
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DIGITAL |
C1 |
C2 |
C3 |
C4 |
C5 |
C6 |
C7 |
C8 |
C9 |
C10 |
C11 |
0-1 |
1-2 |
2-3 |
3-4 |
4-5 |
5-6 |
6-7 |
7-8 |
8-9 |
9-10 |
10-.. |
||||||||||||||||||
Mangue Preservado |
X |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
X |
X |
X |
|
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|
|
|
|
|
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||||||||||||||||||
Mangue Regenerado |
X |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
X |
X |
X |
|
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|
|
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||||||||||||||||||
Mangue Em Regener. |
X |
|
|
|
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|
|
|
|
|
|
X |
X |
X |
|
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||||||||||||||||||
Mangue Alterado 1* |
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X |
X |
|
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|
|
|
|
|
|
|
|
X |
X |
|
|
|
|
|
|
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||||||||||||||||||
Mangue Alterado 2** |
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|
X |
X |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
X |
X |
|
|
|
|
|
|
||||||||||||||||||
Mangue Alterado 3.*** |
X |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
X |
X |
X |
X |
|
|
|
|
|
|
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||||||||||||||||||
Solo Exposto |
X |
|
|
|
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|
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|
X |
X |
X |
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Pastagem |
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X |
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|
X |
X |
X |
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Cultura (arroz) |
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|
X |
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|
|
|
|
X |
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|
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Cultura (horticultura) |
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X |
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|
|
|
|
X |
|
X |
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Capoeira |
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X |
X |
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X |
X |
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|
X |
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Área Urbana |
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X |
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|
|
X |
X |
X |
X |
X |
X |
X |
X |
X |
Tabela 3 - Cruzamento: Classificação Digital/Interpretação Visual/Hipsometria
* mangue alterado com invasoras
** mangue alterado com gramíneas
*** mangue desmatado
Relacionando o mapa hipsométrico e o de interpretação visual , pode-se concluir que a maior classe da interpretação visual (classe 1) que corresponde a 47,5 % da área total, está quase toda contida no intervalo entre 0 a 3 metros o restante das classe estão distribuídas em intervalos superiores a 3 metros, o intervalo 2-3 é o ponto interseção entre a classe 1 e as demais classes .
A partir do cruzamento entre a classificação digital e interpretação visual observa-se que a maior classe da interpretação visual (classe 1), generaliza as três primeiras classes da classificação digital (mangue preservado, regenerado e em regeneração).
As classes 2, 3 e 4 representam respectivamente as classes de mangue alterado (invasoras, gramíneas e desmatado).
Fig.2: mapa hipsométrico
Fig.3: interpretação visual
Fig.4: Classificação digital
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMADOR,E.S. Unidades sedimentares cenozóica do recôncavo da Baía de Guanabara. Anais da Academia Brasileira de Ciências. Rio de Janeiro, 52(4): 756-761, 1980.
ARAÚJO,D.S.D; MACIEL,N.C. Os Manguezais do recôncavo da Baía de Guanabara. Rio de Janeiro, FEEMA, 1979. 113p.
FELGUEIRAS, C.A. Desenvolvimento de um sistema de modelagem digital de terreno para computadores. Orientador: . São José dos Campos, 1987. p. Dissertação (mestrado em computação Aplicada). - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
PIRES, I.O. Monitoramento de manguezais através de correlação de índice da densidade foliar e de radiância TM/ LANDSAT. Orientador: Dr. Renato Herz. São Paulo, 1991. 143p. Tese (Doutorado em Geografia Física) - Departamento de Geografia, FFLCH, USP.