APLICAÇÃO DA CARTA GEOPROCESSADA DE PROXIMIDADE
NO PLANEJAMENTO AMBIENTAL DE MACEIÓ-AL
LÚCIA MARIA CUNHA ALVES DE LIMA1
MARIA HILDE DE BARROS GOES
2JORGE XAVIER DA SILVA
3VANDA ÁVILA RAMOS
1JOVESÍ DE ALMEIDA COSTA
1SILVANA QUINTELA CAVALCANTI CALHEIROS
4AMARO LUIZ FERREIRA
5ANA PAULA LOPES DA SILVA
6JACKSON PINTO SILVA
6MOACIARA DE SOUZA BARROS
6MARIA SANDRA GOMES CAVALCANTE
6
1
Professor Adjunto-UFAL 2Professor Adjunto-UFRRJ3
Professor Titular-UFRJ 4Doutoranda-UFRJ 5Técnico-UFRRJ6Bolsistas de Iniciação Científica-PIBIC/CNPq/UFAL
Universidade Federal de Alagoas
Departamento de Geografia e Meio Ambiente - CCEN
Laboratório de Geoprocessamento Aplicado
Campus A. C. Simões Tabuleiro do Martins
Rodovia BR-104 Norte Km-97 CEP 57.072-970 Maceió-AL
Tel.:(082)322-2301 - FAX (082)322-2345
Resumo. O trabalho visa gerar informações para o planejamento territorial. A área analisada compreende o município de Maceió e parte dos municípios limítrofes. A Carta de Proximidade constitui um cartograma digital da base de dados sobre Maceió, estudo preliminar de análise ambiental, implantada através do Sistema Geográfico de Informação - SGI/SAGA desenvolvido na Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ e transferido para a Universidade Federal de Alagoas-UFAL.
Abstract. This work aims to generate information for the planning of the territory. The studied area encompasses parts of Maceió and limiting municipalities. The Proximity Chart digitally made, is a preliminary environmental analysis organized on the basis of Maceió baseline date, implanted with the use of a GIS(SAGA) which was developed by the Federal University of Rio de Janeiro-UFRJ, and later on transferred to the Federal University of Alagoas-UFAL.
INTRODUÇÃO.
A Carta de Proximidade é um documento cartográfico que identifica e classifica os espaços urbano e regional em corredores de maior ou menor atração tendo como base a utilização das vias de transporte e comunicação ao centro urbano e os diversos usos do solo. Entende-se por atração a capacidade que uma área apresenta de chamar para si a localização da população e equipamentos provedores de serviço. Por outro lado proximidade significa o grau relativo de facilidade com que um ponto do espaço é atingido, a partir de um outro lugar. Assim, a atração será tanto maior quanto maior for a acessibilidade e por sua vez, a proximidade promove a integração dos espaços.
A Carta de Proximidade por ser representativa da ação humana permite a visualização da configuração territorial num determinado momento histórico enfatizando a infra-estrutura das comunicações. Mesmo sendo estática por configurar um período tecnológico, simultaneamente é dinâmica pois representa fluxos existentes podendo servir de base para instalação de futuros equipamentos ou empreendimentos.
Considera-se que a configuração espacial hoje se dá basicamente pelos sistemas de transportes e telecomunicações (SANTOS, 1994, p.141). A Carta de Proximidade apresenta limites de interpretação pois os fluxos informacionais circulam dificultando mensuração e sua respectiva representação. Os fluxos materiais entretanto ainda constituem dado organizacional no desenho urbano. Mesmo entendendo o movimento atual do mundo, onde as cidades se organizam face as condições novas de realização da vida econômica e social pelo aproveitamento das virtualidades de cada área, as transformações da sociedade no espaço urbano são sugeridas através do dinamismo dos fluxos materiais, ou seja pelos diferentes corredores representados na Carta de Proximidade.
Quando conjugada a outros parâmetros a Carta de Proximidade torna-se importante instrumento de análise de ocupação de solo e também de avaliação ambiental.
METODOLOGIA
O Geoprocessamento constitui uma técnica cartográfica todavia para a Carta de Proximidade, empregou-se o Sistema de Análise Geo-Ambiental-SAGA (XAVIER, 1990) que consiste num modelo de análise e permite a associação da acessibilidade com atração levando a compreensão da dinâmica do processo no desenho espacial. As linhas de acesso ao centro urbano e/ou vetores são transformados em áreas de influência de maior ou menor importância. O geoprocessamento em si através do SGI/SAGA constitui um esforço em unir a metodologia cartográfica a um embasamento conceitual facilitando a análise espacial.
Conforme os objetivos da pesquisa e considerando também a disponibilidade dos documentos definiu-se a escala 1:50.000 tendo como base as Folhas Topográficas do IBGE-Maceió e Pilar (1985) e imagem de satélite do INPE (1992) para elaboração da Carta Básica. Esta Carta serviu de referência para os parâmetros ambientais confirmados em trabalho de campo, para atualização, vindo a compor o Inventário Ambiental do Município de Maceió.
Para a elaboração da Carta de Proximidade foram estabelecidas categorias: fixos e fluxos. "Fixos são os próprios instrumentos de trabalho e as forças produtivas"..."Fluxos são o movimento, a circulação e assim eles nos dão, também, a explicação dos fenômenos da distribuição e do consumo" (SANTOS, 1988, p.77). Neste trabalho foram identificados dois tipos de fixos: geradores de atração e possibilitadores de fluxo. O sitio urbano, áreas industriais e os elementos naturais da paisagem são geradores de fluxo, as vias de transporte e comunicação como fixos possibilitadores de fluxos. A combinação entre as categorias estudadas permitiu a identificação de três grupos de proximidade: Proximidade para estradas pavimentadas; Proximidade para estradas não pavimentadas e Proximidade para vias férreas. A organização da Carta de Proximidade deu-se de forma a transmitir idéias dos geradores de fluxos. Cada grupo de proximidade foi caracterizado e descrito segundo os aspectos geoeconômicos e unidades de solo correspondentes.
APLICAÇÃO DA CARTA DE PROXIMIDADE NO PLANEJAMENTO AMBIENTAL DE MACEIÓ
Esta carta, quando associada a outros parâmetros é um importante instrumento de análise ambiental por visualizar a expressão espacial do fenômeno ocupação versus estrutura viária, constituindo-se num subsídio de valor para o planejamento e ordenamento da localização e distribuição dos equipamentos coletivos a nível da política de expansão urbana e regional(fig.01).
Numa tentativa preliminar de interpretação pode-se dizer que a categoria Proximidade para Estradas Pavimentadas e Áreas Urbanas forma verdadeiros eixos de atração da própria cidade indicando locais onde estão implantados ou a possibilidade de implantação mais eficiente dos equipamentos coletivos. A categoria Proximidade para Estradas Pavimentadas, não Pavimentadas e Áreas Urbanas compreende áreas potenciais para novos loteamentos habitacionais e corredores de serviços. A categoria Proximidade para Via Férrea e Área Urbana que condicionou o traçado da cidade, hoje constitui problema por ser este um transporte lento de carga dentro do perímetro urbano, competindo com veículos de velocidade, vindo a ser um empecilho à fluidez do trânsito provocando engarrafamentos e poluição ambiental. A categoria Proximidade para Estrada não Pavimentada, Área Industrial e Área Urbana significa uma fase transitória da organização espacial no momento, pois os fixos tendem a condicionar uma nova importância ao fluxo e um novo corredor de atração.
Os demais fixos que geram ou não fluxos de acordo com seu potencial intrínseco como belezas cênicas, ou ausência do homem, podem ser considerados ideais para áreas de preservação e lazer contemplativo ou participativo.
CONCLUSÃO
A Carta de Proximidade enfatiza a organização espacial das vias de transporte e comunicação num determinado momento. Concluindo, pode-se afirmar que:
- além de representar as categorias consideradas neste estudo, contem informações sobre a rede hidrográfica e demais corpos d´agua dando idéia da localização dos interfluvios, podendo assim ser utilizada como instrumento orientador para a expansão organizada da malha urbana:
- por analisar a área que constitui o conjunto de Maceió e municípios vizinhos, independente das fronteiras administrativas, permite indicação de áreas propícias a ocupação racional pelos fluxos migratórios do interior do Estado para sua sede administrativa. Salienta-se que nos últimos anos este fluxo tem sido expressivo o que tem originado verdadeiros amontoados humanos com completa ausência de planejamento.
PROXIMIDADE |
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CATEGORIA |
DESCRIÇÃO |
ASPECTO GEOECONÔMICO |
UNIDADE DE SOLO |
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PROXIMIDADE PARA ESTRADA PAVIMENTADA. PROX. p/ est pav/área urb/sít ind PROX. p/ est pav/área urb/fer. PROX. p/ est. pav/fer. PROX. p/ est. pav/ ñ pav/sít ind. PROX. p/ est. pav/sít ind. PROX. p/ est. pav/ñ pav/área urb. PROX. p/ est pav./ñ pav/fer e área urb. PROX. p/ est. pav/ñ pav. PROX. p/ est. pav/ñ pav/ área urb e sít ind. |
Associações de estrada pavimentadas com as demais categorias sócio-econômico consideradas na área representando a sua influência como infraestrutura local. |
Corredores principais de circulação da economia municial, estadual e do país. |
Borda de interflúvio tabuliforme dissecado; cordão arenoso; restinga; terraço fluvial; terraços fluviais e marinho e ilhas. |
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PROX. P/ EST Ñ PAV. PROX. p/ est ñ pav/área urb. PROX. p/ est ñ pav/área urb/sít ind. PROX. p/ est ñ pav/sít ind. |
Associações de estrada não pavimentada com, as demais categorias consideradas, representa sua influência com infra estrutura local. |
Estradas vicinais que comp´leta o sistema viário traçado em implantação no Estado. Circulando mercadorias e/ou populações na área rural do município. |
Borda de interflúvio tabuliforme dissecado; terraço marinho; terraço flúvio lagunar; terraço fluviais; ilhas |
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PROX. P/ FERROVIA PROX. p/ fer. p/ est. pav/área urb. PROX. p/ fer estr ñ pav/pav. PROX. p/ fer/área urb. PROX. p/ fer/est ñ pav/pav/área urbana PROX. p/ fer est pav. |
Associações de ferrovia com as demais categorias representando a sua influência com infra estrutura local. |
Antigo meio de transporte unindo a capital ao interior e cidades de Pernambuco. hoje representa um tranporte acessivel às classes mais pobres. |
Terraço marinho; terraço lagunar; várzea flúvio-lagunar; colinas tabuliforme dissecadas. |
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ÁREA FORA DE ANÁLISE |
Não considerada nas proximidades de área de referência. |
Área de cultura de cana predominantemente permeada de pequenos sítios e agricultura de subsistência. |
Interflúvio tabuliforme dissecado; encosta de estuário estrutural; rampa de colúvio; encosta de vale fluvial; terraços flúvio lagunares. |
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SÍTIO INDUSTRIAL |
Área de localização de unidades industriais. |
Concentração de unidades de transformação de matéria prima pré-existente no local para consumo e/ou exportação.
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Restinga; interflúvio tabuliforme dissecado.
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PROXIMIDADE |
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CATEGORIA |
DESCRIÇÃO |
ASPECTO GEOECONÔMICO |
UNIDADE DE SOLO |
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ESTRADA PAVIMENTADA |
Apresenta pavimentação de asfalto, cimento ou paralelepípedo revestimento sólido com uma ou mais vias; maior adensamento no município. |
Corredor de transporte que liga Maceió às demais regiões do país e também o sistema intermunicipal. |
Interflúvio tabuliforme dissecado; cordões arenosos;restinga; terraços fluviais; terraços fluvios-marinho; ilhas. |
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FERROVIA |
Via sobre trilhos de ferro com tráfego permanente de passageiros ou cargas. |
Transporte de mercado- rias em sua extensão e população no percurso de Maceió e Lourenço de Albuquerque. |
Terraço marinho; terraço lagunar; várzeas fluvio-lagunar |
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CANAL |
Fluxo de água continental que interliga as lagoas. |
Representa potencial paisagístico com possível exploração da fauna específica. |
Canais interlagunares que contornam as ilhas fluvio marinhas e ligam as lagoas ao oceano. |
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LINHA DE COSTA |
Encontro das águas do oceano com o continente. |
Potencial paisagístico, comércio artesanal e turístico. |
Cordões arenosos; restinga. |
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ÁREA DA CIDADE |
Área construída da cidade. |
Função específica para habitação, trabalho, circulação, lazer e administração. |
Restinga; terraço de 4 a 5 metros ou de 8 a 10 metros; interfluvio tabuliforme dissecado com mais de 50m. |
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ÁREA URBANA |
Área construída onde se situam as vilas. |
Função específica para habitação, trabalho, circulação e lazer e industrias tradicionais. |
Terraço marinho; terraço fluvio lagunar e encosta de estuário estrutural; interfluvio tabuliforme dissecado. |
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ESTRADA NÃO PAVIMENTADA |
Estrada com tráfego permanente sem pavimento. |
corredor de transporte ligando pequenas unidades urbanas locais e área rural. |
Interfluvio tabuliforme dissecado; terraço marinho; terraços fluvio-lagunar; terraços fluviais; ilhas. |
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OCEANO ATLÂNTICO |
Oceano que banha o município. |
Potencial paisagístico e faunístico, comunicação e lazer. |
Plataforma continental e recifes de arenito e coral. |
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REDE DE DRENAGEM |
Sistema de drenagem plúvio-fluvial e de residuos domésticos líquidos |
Canal natural de condução dos degetos urbanos com possibi-lidade de despoluição representando um potencial ornamental de lazer para a cidade. |
Vales fluviais; várzeas |
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LAGOAS |
Extensão de água salobra separada do oceano por cordões arenosos de origem proveniente marinha. |
Potencial paisagístico e faunístico, servindo de meio de comunicação com cidades vizinhas e explorado pelo turísmo. |
Corpo lagunar com croas arenosas; canias e ilhas flúvio-marinhas. |
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RIOS |
Curso de água de extensão considerável. |
canal natural com capacidade de abastecimento d' água para uso humano, exploração da psicultura predominando a função de desaguadoro para poluentes industriais. |
Vales e encostas fluviais; terraços, várzeas e colinas tabuliformes estruturais |
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOES, Maria Hilde de Barros. Diagnóstico Ambiental por Geoprocessamento do Município de Itaguaí-RJ. Rio Claro: 1994. 515p. Tese de Doutorado em Geografia, Universidade Estadual de São Paulo
SANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo. São Paulo, Editora Hucitec, 1994
SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado. São Paulo: Editora Hucitec, 1988
SILVA, Sylvio C. Bandeira de Mello e. Cartografia de Acessibilidade e da Interação no Estado da Bahia. In:Geografia, UNESP. Rio Claro, v.7, n.13-14, p51-75, 1982
XAVIER DA SILVA, Jorge. A Digital Model of the Environment: an Effective Approach to Areal Analysis. In:Latin American Conference. Anais Rio de Janeiro, 1982, International Geographic Union, vol.1, p17-22
XAVIER DA SILVA, Jorge e Equipe. A Nova Versão do SAGA/UFRJ. IN: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 4. Anais Manaus, 1990, vol.3